Deputado estadual mineiro diz ser “hipocrisia” pautar financiamento eleitoral de mineradoras

Deputados participam de Audiência Pública. Da esquerda para a direita: Paulo Lamac (PT), Rogério Correia (PT), Cristiano Silveira (PT) e Thiago Cota (PPS). Foto: Pedro Menegheti
Deputados participam de Audiência Pública. Da esquerda para a direita: Paulo Lamac (PT), Rogério Correia (PT), Cristiano Silveira (PT) e Thiago Cota (PPS). Foto: Pedro Menegheti
FLÁVIO RIBEIRO

Entre os escolhidos para integrar a comissão da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) que pretende investigar o caso do rompimento da barragem da Samarco, os deputados estaduais Thiago Cota (PPS) e Paulo Lamac (PT) estiveram em Mariana no último dia 16.

Juntos, os dois receberam quase R$ 700 mil em doações das mineradoras, e chamaram de “hipocrisia” e “absurdo” a mídia citar o financiamento de campanha como uma suposta falta de imparcialidade nas apurações.

Criada no dia 11 de novembro pela ALMG, a Comissão Extraordinária das Barragens irá atuar com 22 membros e será responsável por propor medidas de recuperação de danos nas áreas sociais, ambientais e econômicas, além de discutir a situação das outras 700 barragens no Estado.

Simultaneamente, a Câmara dos Deputados também irá acompanhar o caso, por meio da Comissão Externa das Barragens, com 19 parlamentares federais. De acordo com o presidente da comissão externa, Sarney Filho (PV), a primeira abordagem de trabalho é a emergencial, para dar “força política às reivindicações da sociedade”. Já a segunda fase tratará sobre a legislação para o setor, como o Novo Marco da Mineração. O político não citou prazos.

Em meio aos cinco deputados estaduais presentes, Cota e Lamac estão entre os mais abastecidos por doações do setor de mineração. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o marianense recebeu R$ 111 mil de mineradoras (de um total de R$ 1,1 milhão em doações). Lamac obteve ainda mais: R$ 572,8 mil (de R$ 1,4 milhão em doações). Os dados se referem à campanha eleitoral de 2014.

“Acho absurdo parte da imprensa querer noticiar isso como se fosse algo que poderia nos tornar parciais nesse momento”, disse Thiago Cota ao LAMPIÃO.

Para Lamac, é “hipocrisia” rotular a atuação política em função do financiamento de campanha. “Todos foram financiados por alguém, todos foram financiados por algum tipo de atividade econômica. Generalizações a priori não contribuem nesse momento. No meu caso, evidentemente, não serei influenciado por conta de contribuição de campanha”, afirmou o deputado.

 

Desconfiança

Segundo Beatriz Cerqueira, presidente da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG), existe uma relação de desconfiança por conta do lobby da mineração. “Estamos diante de um grande poder econômico. A pessoa tem compromisso com quem a financia”, criticou.

A representante da CUT/MG, Beatriz Cerqueira, critica o lobby da mineração dentro da política. Foto: Rodrigo Sena.
A representante da CUT/MG, Beatriz Cerqueira, critica o lobby da mineração dentro da política. Foto: Rodrigo Sena.

Na mesa, que pretendia coletar relatos, denúncias e reinvindicações, estavam os deputados federais Sarney Filho (PV), Marcelo Aro (PHS), Jô Moraes (PCdoB), Pastor Franklin (PTdoB), Mario Heringer (PDT), Eros Biondini (PTB) e Fábio Ramalho (PV). Os três últimos também foram financiados por empresas do setor, segundo levantamento do jornal “O Estado de S. Paulo”.

Dispersão política

Apesar de confirmarem presença na audiência e discursarem por poucos minutos, os deputados federais não acompanharam o evento até o fim. De acordo com os parlamentares, a agenda política previa uma visita ao subdistrito de Bento Rodrigues, principal local atingido pela lama da barragem.

Rosilene Gonçalves, moradora de Bento Rodrigues, narra o que passou com o rompimento da barragem da Samarco. Foto: Rodrigo Sena.
Rosilene Gonçalves, moradora de Bento Rodrigues, narra o que passou com o rompimento da barragem da Samarco. Foto: Rodrigo Sena.

Parte dos vereadores de Mariana também teve que se retirar por volta das 16h, pois a reunião ordinária da Câmara Municipal não havia sido desmarcada. Apenas José Jarbas (PTB) e Cristiano Villas Boas (PT) retornaram à audiência.

A justificativa, segundo Jarbas, é que a Câmara de Mariana não recebeu o aviso oficial do evento. A saída precoce dos parlamentares gerou revolta no local, onde cerca de 100 pessoas acompanharam a audiência.

Os deputados estaduais Rogério Correia (PT), Cristiano Silveira (PT), Professor Neivaldo (PT) e Douglas Melo (PSC) também integraram as discussões da audiência, além de movimentos sociais, polícias Civil e Militar, religiosos, promotoria e um gerente de projetos da Samarco.

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