FLÁVIO RIBEIRO
Entre os escolhidos para integrar a comissão da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) que pretende investigar o caso do rompimento da barragem da Samarco, os deputados estaduais Thiago Cota (PPS) e Paulo Lamac (PT) estiveram em Mariana no último dia 16.
Juntos, os dois receberam quase R$ 700 mil em doações das mineradoras, e chamaram de “hipocrisia” e “absurdo” a mídia citar o financiamento de campanha como uma suposta falta de imparcialidade nas apurações.
Criada no dia 11 de novembro pela ALMG, a Comissão Extraordinária das Barragens irá atuar com 22 membros e será responsável por propor medidas de recuperação de danos nas áreas sociais, ambientais e econômicas, além de discutir a situação das outras 700 barragens no Estado.
Simultaneamente, a Câmara dos Deputados também irá acompanhar o caso, por meio da Comissão Externa das Barragens, com 19 parlamentares federais. De acordo com o presidente da comissão externa, Sarney Filho (PV), a primeira abordagem de trabalho é a emergencial, para dar “força política às reivindicações da sociedade”. Já a segunda fase tratará sobre a legislação para o setor, como o Novo Marco da Mineração. O político não citou prazos.
Em meio aos cinco deputados estaduais presentes, Cota e Lamac estão entre os mais abastecidos por doações do setor de mineração. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o marianense recebeu R$ 111 mil de mineradoras (de um total de R$ 1,1 milhão em doações). Lamac obteve ainda mais: R$ 572,8 mil (de R$ 1,4 milhão em doações). Os dados se referem à campanha eleitoral de 2014.
“Acho absurdo parte da imprensa querer noticiar isso como se fosse algo que poderia nos tornar parciais nesse momento”, disse Thiago Cota ao LAMPIÃO.
Para Lamac, é “hipocrisia” rotular a atuação política em função do financiamento de campanha. “Todos foram financiados por alguém, todos foram financiados por algum tipo de atividade econômica. Generalizações a priori não contribuem nesse momento. No meu caso, evidentemente, não serei influenciado por conta de contribuição de campanha”, afirmou o deputado.
Desconfiança
Segundo Beatriz Cerqueira, presidente da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT/MG), existe uma relação de desconfiança por conta do lobby da mineração. “Estamos diante de um grande poder econômico. A pessoa tem compromisso com quem a financia”, criticou.
Na mesa, que pretendia coletar relatos, denúncias e reinvindicações, estavam os deputados federais Sarney Filho (PV), Marcelo Aro (PHS), Jô Moraes (PCdoB), Pastor Franklin (PTdoB), Mario Heringer (PDT), Eros Biondini (PTB) e Fábio Ramalho (PV). Os três últimos também foram financiados por empresas do setor, segundo levantamento do jornal “O Estado de S. Paulo”.
Dispersão política
Apesar de confirmarem presença na audiência e discursarem por poucos minutos, os deputados federais não acompanharam o evento até o fim. De acordo com os parlamentares, a agenda política previa uma visita ao subdistrito de Bento Rodrigues, principal local atingido pela lama da barragem.
Parte dos vereadores de Mariana também teve que se retirar por volta das 16h, pois a reunião ordinária da Câmara Municipal não havia sido desmarcada. Apenas José Jarbas (PTB) e Cristiano Villas Boas (PT) retornaram à audiência.
A justificativa, segundo Jarbas, é que a Câmara de Mariana não recebeu o aviso oficial do evento. A saída precoce dos parlamentares gerou revolta no local, onde cerca de 100 pessoas acompanharam a audiência.
Os deputados estaduais Rogério Correia (PT), Cristiano Silveira (PT), Professor Neivaldo (PT) e Douglas Melo (PSC) também integraram as discussões da audiência, além de movimentos sociais, polícias Civil e Militar, religiosos, promotoria e um gerente de projetos da Samarco.